O médico conta que sua opção por
trabalhar com parto não-convencional teve um
empurrãozinho a partir da solicitação dos "casais
grávidos" e dos estudos do médico Moyses Paciornick, que
investigou mais a fundo os rituais indígenas
brasileiros. A corrente emergente, que cada vez mais
ganha adeptos, aponta que, agachada, a mulher garante
uma força de puxo maior para a expulsão do feto. "A
força da gravidade colabora demais, além do que a
parturiente, em geral, conta com melhores condições
perineais que no parto convencional", destaca.
Apesar das controvérsias sobre a
posição mais adequada ao parto, Sabatino sustenta que a
posição de cócoras é mais fisiológica que as demais e
traz crianças ao mundo com um estado de saúde melhor.
"Em um estudo nosso comparativo, as crianças nascidas de
partos tradicionais tiveram sete vezes mais depressão
que as nascidas de partos de cócoras. Também o índice de
Apgar, instrumento que avalia todos os reflexos do bebê
ao nascer, mostrou cinco vezes mais Apgar ‘10’, numa
escala que varia de 0 a 10", revela.
Hugo Sabatino afirma que, na Europa, o
parto de cócoras já é bastante empregado, mas apenas de
forma empírica. Acredita que sua permanência na Espanha,
no caso, encontrará terreno fértil para que o processo
de conhecimento avance, já que a Europa apresenta uma
medicina social das mais desenvolvidas. De acordo com
ele, a experiência brasileira será bem-aceita, contanto
que se associe a uma visão humanizada do parto, com uma
equipe multiprofissional integrada e com o apoio de
políticas públicas efetivas à aplicação do projeto que
utiliza as Unidades Unicamp, a qual congrega todos estes
fatores.
Na Unicamp, Sabatino ministra cursos a
distância para replicar o método. Nova turma terá início
no mês de abril, viabilizada pela Escola de Extensão –
Extecamp (www.extecamp.unicamp.br/parto_alternativo).
Cadeira apropriada - Uma forte
aliada da mulher que deseja ter um parto alternativo
surgiu com a agregação da cadeira obstétrica.
Confeccionada preliminarmente na Unicamp pelo residente
Felício Sanchez, que em 1981 era aluno de Sabatino, a
cadeira foi utilizada pela primeira vez por Rúbia
Mitiko, esposa do aluno criador do invento. Nasceu Tuti,
um forte garotão, hoje universitário. Depois disso,
cerca de outras mil mulheres tiveram esse parto. "Foi
uma importante experiência empírica. Faltava demonstrar
que o método era cientificamente adequado", diz.
Para dar sustentação ao método,
Sabatino e alguns discípulos realizaram uma pesquisa de
ponta. Implantaram cateteres na cavidade uterina a fim
de medir as pressões que ocorriam na mulher durante o
parto. A sugestão, informa o obstetra, veio da área da
física: do professor Hugo Fragnito. O físico do IFGW
revelou ao grupo que o parto também era um problema da
física, passo importante, comenta Sabatino, sem o qual
não se teria total dimensão do estudo.
Fragnito demonstrou, com o auxílio de
algumas fórmulas, que os números obtidos sinalizavam as
vantagens e as desvantagens do parto de cócoras. "As
fórmulas regem os movimentos dos corpos em um ambiente
líquido semifechado, como o útero. Com as medidas
realizadas, conseguimos quantificar a força que a mulher
faz no momento do parto, modificando de posição".
Sabatino reflete para concluir. "Criamos uma teoria que
revoluciona o mecanismo do parto, ao glosar as forças
atuantes nesse momento, e que podem ser medidas em
milímetros de mercúrio (força ou pressões) vezes
centímetros quadrados (diâmetros do feto)", embasa. A
teoria foi divulgada em publicações internacionais,
completando as evidências científicas que
faltavam.
Uma década depois da primeira cadeira,
Hugo criou outra cadeira de parto, atualmente patenteada
e aguardando licenciamento. Ela tanto pode ser utilizada
durante a realização de partos de cócoras como em outros
tipos de partos. De fácil manutenção, a cadeira é feita
de material de fibra de vidro, o que permite lavagem
após o parto. "É possível ainda incluir motor elétrico
na cadeira e modificar sua altura. Com uma adaptação,
parte dela pode ser fechada, e o bebê nascer na água",
agrega. Defensor confesso do parto em posição
verticalizada, Hugo Sabatino sabe que hoje não levará
para a Europa apenas uma prática empírica. Cruzará o
Atlântico com muitas evidências científicas, e em terras
espanholas.
